segunda-feira, 1 de junho de 2015

O transtorno pela queda da ponte no São Francisco

PUBLICADO EM 03/04/15 - 03h00



Luzenses e lagopratenses têm muito orgulho por compartilhar o rio São Francisco, em sua divisa de 53,34 km, e mantêm relações econômicas desde o fim do século XIX, quando os territórios pertenciam, respectivamente, a Dores do Indaiá e Santo Antônio do Monte. Sofreram, então, transtorno, com a destruição da cabeceira da ponte Olegário Maciel, no dia 12 de dezembro de 2014, quando um motorista, ignorando a placa de advertência de peso máximo de 20 toneladas, tentou passar sua carreta com 40. Ele levava brita para uma empreiteira que estava asfaltando a antiga estrada municipal e construía outra ponte sobre o Velho Chico.


Os primeiros dias foram muito difíceis, porque a empreiteira abandonou tudo, alegando que os contratantes não estavam honrando o pagamento com a mudança de governo. Vieram, em seguida, intermináveis discussões sobre a viabilidade de recuperar a ponte e a quem caberia a responsabilidade da obra. Luzenses e lago-pratenses descobriram que seu problema permaneceria se ficassem esperando por autoridades estaduais ou federais. Os usuários estavam atravessando o rio em canoas, pegando outro transporte do outro lado, quando não levavam carga, ou davam uma volta pela BR–262, que aumentava entre 70 a 110 km, conforme o ponto em que precisavam ir. O desgaste emocional somava-se à perda de tempo, à exposição a acidentes e aos custos maiores para entregar sua produção ao seu destino. O prefeito de Luz, Ailton Duarte, o juiz aposentado Célio Carvalho e o presidente da Associação dos Canavieiros do Alto São Francisco, Gustavo Borges Carvalho, pediram ao juiz da comarca de Luz que autorizasse a reforma. Conseguiram também que o comandante da IV Região Militar providenciasse a visita de professores da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Itajubá para orientar sobre as técnicas possíveis. Após a licença judicial, as duas maiores empresas de Lagoa da Prata (Embaré Indústrias Alimentícias S.A. e Biosev, da Louis Dreyfus Commodities Company) assumiram os custos financeiros, operacionais e técnicos, recuperando o acesso em apenas 15 dias. Elas tinham se prontificado, desde o início, para esse trabalho, mas nada poderiam fazer se não houvesse autorização, porque seriam responsabilizadas por qualquer desdobramento negativo. Todos celebraram efusivamente, no dia 21 de março, quando retomaram o caminho estabelecido em 1925. O transtorno acabou, mas os prejuízos dos produtores dos dois municípios serão irreparáveis.


Esse episódio é mais um exemplo do drama de brasileiros que padecem de problemas decorrentes de obras inacabadas, inépcia administrativa, destruição de patrimônio e abandono pelo poder público quando os cidadãos precisam dele. A recuperação da ponte com madeira foi uma medida de desespero, pois a população estava exaurida, mas não é uma solução definitiva. Todos esperam, então, que a nova ponte de concreto seja terminada imediatamente.




Fonte: http://www.otempo.com.br/opini%C3%A3o/gilda-de-castro/o-transtorno-pela-queda-da-ponte-no-s%C3%A3o-francisco-1.1019514

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